A VERDADEIRA TÉCNICA DO TIRO POLICIAL

A VERDADEIRA TÉCNICA DO TIRO POLICIAL

A VERDADEIRA TÉCNICA DO TIRO POLICIAL

 

            A Técnica do Tiro Policial é apaixonante e foi desenvolvida para aumentar a segurança dos militares e policiais durante o combate. Composta por um "Conjunto" de posições, movimentos, habilidades e equipamentos que funcionam de forma harmoniosa entre si, possibilitando um melhor resultado, para o operador.

            Este "Conjunto", ao qual me refiro tem origem de décadas oriundos de experiências em campos de batalha, sejam em guerras, ou em confrontos policiais que foram construídos a duras perdas, por integrantes de grupos especiais militares e policiais.

            Na atualidade existe uma grande polemica entre Instrutores de tiro policial, onde, alguns adotam e defendem o uso de movimentos oriundas das técnicas do tiro esportivo, para compor a técnica do tiro policial e outros, como eu, já adotam os movimentos oriundos da técnica policial pura (já escrevi um artigo sobre este tema. Leia em: https://www.ctte.com.br/post/a-tecnica-policial-pura-e-absoluta-40.html ) originada nas OESP (Operações Especiais). Não que uma modalidade não contribua para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da outra, mas é imprescindível que não se faça confusão entre ambas e acabe por fragilizar a verdadeira técnica policial.

            Os próprios grupos de Forças Especiais americanas e até mesmo européias, também buscam aperfeiçoamento nas técnicas de tiro, com atiradores profissionais do esporte. Muitos destes, por desenvolverem tantas habilidades na busca da velocidade e da precisão, são extremos conhecedores em matéria de tiro, seja com arma curta ou longa. Conhecer habilidades em outras áreas, para desenvolver habilidades em área específica é natural e isso acontece em qualquer segmento técnico. Assim como o desenvolvimento e adoção de equipamentos mais avançados para contribuir nessa evolução.

            Ocorre que falando especificamente em técnicas de OESPP(Operações Especiais Policiais) a coisa é um pouco diferente, pois aqui temos uma preocupação a mais, que não seja apenas acertar o alvo. Aqui temos que fazer o casamento perfeito entre atirar, proteger, movimentar e principalmente acertar primeiro disparo, se quisermos voltar para casa. Aqui temos uma preocupação a mais, pois temos a certeza de que também vira tiro de lá para cá. Aqui está a diferença do emprego de determinada técnica, para cada finalidade.

            Do tiro desportivo trazemos para dentro do "Conjunto" que compõe a técnica policial, a habilidade no manuseio do armamento.

            Para entendermos melhor a técnica de tiro policial nesta exposição vou dividi-la em dois estágios de aprendizado. Apesar destes serem indissociáveis em sua execução, pois fazem parte de um "Conjunto perfeito", podem ser aprendidos separadamente.

            Lembrando que essa divisão em dois estágios é meramente acadêmica.

Estágio 01 - Movimentos Táticos:

            Resumem-se em posições corporais e formas de deslocamento(movimentos), com a finalidade de aumentar a segurança do operador e consequentemente darão o devido nível de segurança, à técnica. A forma do posicionamento corporal além de ser importante para aumentar a segurança, pois ajuda a diminuir silueta, também é fundamental para estabilizar a arma durante os disparos em movimento.

               Estes movimentos táticos são fundamentais e fazem parte da Doutrina das OESP, os quais são imutáveis, substituídos apenas por outros movimentos chamados de posições não ortodoxas de tiro, as quais também adotam posições definidas  devido a determinadas circunstâncias do combate. Mudanças nestes movimentos somente se forem com a finalidade de aumentar a segurança da técnica.

Estágio 02 - As habilidades no uso do armamento:

            Neste Estágio busca-se o domínio, a segurança, a velocidade e a precisão, no emprego do armamento. Aqui o operador treina para alcançar a habilidade e o domínio do armamento.

             Portanto, no Estagio 01, são movimentos desenvolvidos em situações de confronto de guerras que remontam a segunda guerra mundial, desde a criação pelos britânicos, dos grupos de OESP. Estes movimentos foram aperfeiçoados, com o passar dos anos durante a evolução dos próprios conflitos, devido ao nível dos combates aproximados e a extrema curtas distâncias, nas chamadas guerras urbanas.

            As próprias unidades Táticas da polícia americana trataram de aperfeiçoá-los através de estudos de situações reais vividas por seus operadores, sempre no sentido de aperfeiçoá-los e nunca visando fragilizá-los. Poucas mudanças foram implementadas nas últimas décadas nestes movimentos táticos. A mais recente que podemos apontar foram nas técnicas de CQB(no Afeganistão), com relação aos movimentos de deslocamento durante a realização da entrada. Tal evolução de OESP foi desenvolvida pelos operadores SEALs e, adaptadas pelos grupos de SWAT, para as OESPP. Tema que abordo no último capítulo de meu segundo livro, CQB CTTE/2018.

            Percebam que estas mudanças são originadas de comprovações em campo de batalha e levam anos para virem a ser adotadas, se não depois de muito estudo e comprovação de eficácia e segurança. Tais idéias de mudança e evolução sempre partem de Grupos Especializados que as comprovaram eficientes. Jamais oriundas de estandes de Tiro, mas sim oriundas e testadas em campo de batalha.

            Já quando se fala no Estagio 02, não se pode negar a flagrante evolução na técnica de tiro, coisa que a evolução tecnológica propiciou largamente. O aumento da velocidade e consequentemente a precisão, com a melhora de ergometria e mecanismos mais aperfeiçoados possibilitando maior segurança e domínio do equipamento. Aqui nada mais correto do que buscar este conhecimento com especialistas do tiro, os atiradores desportivos, os quais treinam a exaustão, para alcançar o objetivo principal, a velocidade e precisão. Essa habilidade associada as verdadeiras técnicas do tiro policial é o que formam o "Conjunto" perfeito.

            Ocorre que muitos instrutores de Tiro Policial adotam técnicas associadas a movimentos que foram desenvolvidos somente para atirar com segurança, em papel. Com isso cometem o equívoco de propalar tal movimento como se seguro fosse, para a atividade policial.

            Percebam então, que a técnica policial, ou mais precisamente O TIRO POLICIAL é uma construção e Conjunção dos dois Estágios (01 e 02). Isso está rigidamente declarado na Doutrina que norteia as OESP e as OESPP.

            Muitos IATs não conhecem o Estágio 01, mas dominam o Estágio 02, isso nas OESPP não seria o suficiente para manter-se a segurança tolerável durante o combate, como determina a Doutrina.

            Por tudo isso, quando vejo vídeos com IATs ensinando movimentos que flagrantemente, na visão técnica não são seguros, não me contenho em comentar fazendo sempre uma análise técnica.

            Muitos IATs acabaram se dedicando muito em aprender e dominar o Estágio 02, mas esqueceram, ou deixaram de lado, ou talvez até nem conheçam a fundo o Estágio 01. Este, de suma importância para a técnica perfeita. Alguns justificam esta aberração como a evolução da técnica. Falar em evolução da técnica e não conhecer sua origem é temerário principalmente quando se está ensinando pessoas a sobreviverem lá fora.

            Por tudo isso é que defendo que o policial tem que treinar da forma correta, assim como o instrutor tem o dever moral de ensinar a técnica correta e não passar a repetir o que ouviu, sem mesmo conhecer sua origem e fundamentação.

 

Marcos Vinicius Souza. Foi Policial Civil/RS, por 32 anos. Instrutor de OESPP e Fundador do CTTE.

 



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