O Medo (adrenalina)
Afirma-se que o medo é o maior inimigo do homem. O medo está por trás do fracasso, da doença e das relações humanas desagradáveis. Milhões de pessoas têm medo do passado, do futuro, da velhice, da loucura e da morte. O medo é um pensamento em sua mente e você tem medo dos seus próprios pensamentos.
Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse: Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa.
Você nasceu apenas com dois medos: o medo de cair e o medo do barulho. Todos os seus outros medos são adquiridos ao longo de sua existência. Livre-se deles.
O medo normal é bom, o medo anormal é mau e destrutivo. Permitir constantemente os pensamentos de medo acarreta o medo anormal, obsessões e complexos. Temer alguma coisa persistentemente provoca um sentimento de pânico e terror. Você pode superar o medo anormal quando sabe que o poder do seu subconsciente pode mudar os condicionamentos e realizar os desejos acalentados por seu coração. Dedique sua atenção e devote-se, imediatamente, ao seu desejo, que é o oposto do seu medo. Este é o amor que expulsa o medo. Enfrente seus temores, traga-os à luz da razão. Aprenda a sorrir dos seus temores. Esse é o melhor remédio[1].
O medo é inerente aos seres humanos. Todos sentimos medo. Uma frase que sempre digo aos meus alunos “O homem que disser que não sente medo estará mentindo”. Alguns controlam esta sensação com maior facilidade.
A sensação de medo nada mais é do que a descarga de adrenalina em nosso organismo. A adrenalina ou epinefrina é um hormônio, derivado da modificação de um aminoácido aromático, secretado pelas glândulas supra-renais, assim chamadas por estarem posicionadas acima dos rins. Em momentos de "stress", as supra-renais secretam quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros. Quando lançada na corrente sanguínea, devido a quaisquer condições do meio ambiente que ameacem a integridade física do corpo (fisica ou psicologicamente) aumenta a freqüência dos batimentos cardíacos e o volume de sangue por batimento, eleva o nível de açúcar no sangue, minimiza o fluxo sanguíneo nos vasos e no sistema intestinal enquanto maximiza o tal fluxo para os músculos voluntários nas pernas e nos braços e "queima" gordura contida nas células adiposas. Isto faz com que o corpo esteja preparado para uma reação agressiva, ou em certos caso a fuga[2]. Existem duas formas de medo.
O medo provocado pela descarga de adrenalina boa, aquela que nosso organismo desprende quando, estamos a realizar algo que apesar de perigoso é ao mesmo tempo prazeroso, como por exemplo, a pratica de esportes radicais.
O outro tipo de medo é o causado pela adrenalina ruim que é aquela, onde nosso organismo reage a momentos em que nossas vidas são expostas a riscos causados por ameaças externas, como por exemplo: durante o cumprimento de um mandado de busca ou de prisão, ou até mesmo durante um confronto policial. É esta a adrenalina que o preparará para duas situações, a luta, ou a fuga, mas também, se incontrolável pode causar o pânico e conseqüentemente o desmaio.
Os efeitos causados no organismo pela adrenalina ruim são devastadores e dependendo da situação a ser enfrentada pode colocar o policial em sérios apuros. O corpo reage negativamente com os seguintes sintomas: Visão de túnel, perda do volume da audição, pernas tremulas causando perda de sustentação do corpo, desconforto intestinal, movimentos e reação lenta, perda da noção de tempo (como se um minuto fosse uma eternidade), etc... Se este estresse não for controlado e dependendo da situação que está a desenrolar em sua volta, isso poderá custar - até mesmo - a sua própria vida.
Existem duas sensações de medo distintas que podem ser nitidamente identificadas.
A primeira é aquela que sentimos quando estamos nos preparando para as piores situações. Como por exemplo, quando estamos planejando para a manhã seguinte uma operação para realização da prisão de um criminoso que sabemos estar escondido em determinado endereço, e, seu histórico de crimes não nos deixa dúvidas que se tiver oportunidade não aceitará a voz de prisão. Esta sensação que nos domina no dia anterior chama-se “ansiedade”. Esta é a resposta anterior ao medo dada por nosso organismo.
“Na ansiedade o individuo teme antecipadamente o encontro com a situação ou objeto que lhe causa medo”.
O sentimento de ansiedade é saudável, uma vez que nos prepara gradativamente para a situação de estresse extremo, pois à medida que passa, a ansiedade se transforma em medo e este, se já for esperado fica mais fácil de ser controlado. Quanto mais se aproxima da hora da ação, ou quanto mais perto do local marcado, maior é a sensação de medo. Este medo que dou o nome de medo com hora marcada é mais fácil de ser controlado, pois ele cresce de uma forma gradativa em nosso organismo. Diferente do medo que enfrentamos sem estarmos esperando, ou seja, aquele que nos pega de surpresa como, por exemplo, quando estamos caminhando na rua e presenciamos um assalto e somos obrigados a reagir de forma quase que intuitiva, nossa escala de adrenalida vai de 0 a 100 em segundos.
Portanto, podemos identificar duas sensações de medo distintas, aquela que cresce gradativamente em nosso organismo possibilitando seu controle, e, aquela que nos toma de assalto e nos faz quase que prisioneiros mesmo que momentaneamente. Alguns indivíduos neste momento, como chamamos no jargão policial, “congelam”.
Sendo assim, é possível se traçar uma escala de graus de medo, no qual, o máximo seria o pavor ou pânico e, o mínimo, uma leve ansiedade.
Nos meus atuais 32 anos como policial já vivi por inúmeras vezes todas estas sensações que acabamos de descrever e com o passar do tempo desenvolvi três técnicas que sempre deram certo para enfrentar e vencer o medo. Em primeiro lugar que é a chave de tudo é o treinamento. Treine o mais próximo da realidade possível. Procure realizar cursos que te tragam o mais próximo da realidade que irá enfrentar. Viva intensamente os momentos de adrenalina durante os treinamentos e assim conseguirá controle emocional para enfrentar as situações de estresse com naturalidade.
Outra forma de enfrentar o medo, ou seja, o controle do excesso de adrenalina no organismo, seja ela boa ou ruim é a respiração. Faça este teste. Inspire somente pelo nariz enchendo os pulmões de ar, até senti-los precionados pela caixa toráxica e expire pela boca de uma só vez. Faça isso por três vezes. Somente três, se fizer mais vezes provocará uma hiper-ventilação no cérebro e sentirá tontura. Espero alguns minutos e faça novamente.
E em terceiro, o grito, desta forma também se estará oxigenando o organismo e a adrenalina se dissipará. Grite com toda a força “polícia no chão no chão, deita, deita”. Isso é muito válido para aqueles momentos em que se está em frente a uma porta, pronto para a entrada, durante o cumprimento de um mandado de prisão. Ao ingressar, mesmo que não esteja enchergando alguém, grite bem forte por várias vezes e verá que alem de servir de alerta para o criminoso mau intecionado alivia a tensão e estabiliza o organismo.
Um conselho que dou para todos com quem falo sobre isso, “Nunca perca o medo, pois ele sempre te manterá vivo”. O medo é a chave mestra de qualquer operador tático. O medo é o balizador entre o verdadeiro profissional e o herói. Seja sempre um verdadeiro profissional.
Texto extraido do Livro Manual de Técnicas e Procedimentos Policiais - Autor: Marcos Vinicius Souza de Souza - Policial Civil/RS - Fundador do CTTE
[1] Texto extraído de: O Poder do Subconsciente Dr. Joseph Murphy.
[2] Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.