Vou iniciar com uma afirmação que poucos sabem; A maior causa de morte entre pessoas baleadas por arma de fogo ocorre mais pela exsanguinação (processo fatal de total perda de sangue) do que com o comprometimento de algum órgão vital ou de alguma ligação critica do sistema nervoso.
Para o atirador de defesa pessoal, isso significa que mesmo que você tenha acertado a ameaça, na melhor das hipóteses, você só tem por volta de 10 segundos antes que alvo esteja ineficaz combativelmente. Para o atirador recreativo, isso significa que ter um bom kit de primeiros socorros por perto pode ser a diferença entre a vida ou a morte.
Em um ambiente pré-hospitalar, o primeiro objetivo do atendimento por perfuração por arma de fogo é parar o sangramento. Um adulto perderá por volta de 1 litro de sangue antes de entrar em choque hipovolêmico e um pouco mais de 2 litros antes que o seu cérebro perca a capacidade de funcionar adequadamente, ou seja, morto.
Até este momento, o seu corpo, sistematicamente, desligará o fluxo sanguíneo para as suas extremidades, concentrando o resto de volume de sangue na sua cabeça e abdômen. Tratar esse tipo de perda sanguínea vai depender de onde está o ferimento.
Nas extremidades, as pessoas sempre tendem a evitar o torniquete. E claro, para sangramentos menores, que podem ser controlados por aplicando pressão diretamente no ferimento, usar o torniquete pode ser considerado um pouco exagerado. Mas é muito difícil identificar a severidade de um ferimento por arma de fogo no campo de batalha ou em qualquer ambiente sem recursos. Minha primeira ação sempre é pegar aquele torniquete e botar na extremidade, a menos que essa extremidade seja a sua cabeça, claro.
Desde o momento em que o torniquete é colocado e apertado, você tem duas horas antes de ver danos irreversíveis aos tecidos, mas isso tudo ainda é melhor que sangrar até morrer.
Para ferimentos abdominais fica um pouco mais complicado. Como há mais espaço para o sangue se acumular, é muito difícil identificar o quão sério o sangramento realmente é. Grande parte dos vasos sanguíneos, correm por dentro da coluna vertebral, ou seja, não verá pulsações ou esguichos que normalmente indicariam uma laceração destes vasos.
Resumidamente, imagine o pior, coloque uma bandagem maior no abdômen, aplique pressão e transporte imediatamente.
Transporte rápido é a chave para a sobrevivência, ou em outras palavras, Terapia do Diesel. Para ferimentos por arma de fogo, levar o paciente ao atendimento definitivo é crucial para que tenham uma chance. Atendimento definitivo quer dizer um centro cirúrgico, conseguir levá-los até o pronto socorro é bom mas eles precisam de ser costurados de volta para sobreviver.
Para o civil comum, levar alguém para um atendimento definitivo, pode não significar esperar por uma ambulância. Imagine que vá demorar 2-3 minutos para o 190 receber a chamada, mais uns 15 minutos para a ambulância chegar no local, mais 3-4 para começar o atendimento, no minimo e nos centros com maior capacidade.
Estamos falando de mais de 20 minutos que está sangrando sem parar e não está chegando perto de um hospital.
Alguns podem discordar, mas se você souber onde é o hospital mais próximo e se ele estiver a menos de 10 minutos de carro, leve a vitima você mesmo. Vai descobrir que se chegar ao pronto socorro e gritar “ferimento a tiro” vai receber mais ajuda do que espera em colocar a pessoa em uma maca e pra dentro do PS.
Fonte: Blog Marcelo Bini - Instrutor do CTTE - https://medicinadecombate.wordpress.com
Marcelo Bini é Médico Combatente no Exército dos Estados Unidos e Policial e no Estado do Texas. Serviu no Hospital de Apoio ao Combate do Exército dos Estados Unidos, há poucos km da fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte, onde permaneceu por 3 anos. Marcelo também atuou pela 32a Brigada Médica e a 1a Brigada de Strykers. Tem formação de paramédico pelo Centro Médico de Exército dos Estados Unidos e é instrutor de Atendimento Pré-Hospitalar Tático. Na área civil, Marcelo é instrutor de ACLS ( Suporte Avançado de Vida em Cardiologia e PALS (Reanimação Pediátrica) pela American Heart Association (AHA).