QUAL A ARMA IDEAL, 9mm, .40, ou .45 - COMO DOMINAR SEU RECUO.
Apesar do titulo, neste artigo não pretendo abordar o tema da balística, referente aos calibres citados, mas sim tratar de um ponto mais específico, ou seja, como dominar seu recuo. Nossa intenção é abordar justamente a execução do controle da arma, como dominar este recuo, sem combatê-lo, ou brigar com ele.
Como é do conhecimento de todos o recuo de uma pistola é causado pelo reaproveitamento dos gases, em conseqüência da queima do propelente contido, na base do cartucho, que serve para ejetar o projétil através do cano. A força dos gases projetam o slide para trás que posteriormente é jogado para sua posição original, pela função da mola recuperadora, neste instante realizando o movimento de recargaregamento da arma. A intensidade do recuo de uma arma pode variar de acordo com a potencia de seu calibre. Para a atividade policial os calibres de pistola mais empregados são o 9mm, .40 e .45. A escolha se dá pelo considerável poder de fogo, destes calibres e por apresentarem um recuo controlável, para a possibilidade de execução de uma sequência rápida de disparos, com a devida retomada do aparelho de pontaria.
Este recuo é inevitável e não deve ser combatido, mas sim assimilado, pela força, com a qual se segura a arma, com ambas as mãos. Uma pergunta muito comum: Qual a força que devo imprimir sobre a arma para controlá-la? Eu sempre respondo, com uma frase que ouvi durante meu aprendizado, mas infelizmente não lembro que falou. "Segure a arma como se fosse um pássaro, você não quer matá-lo e não quer que ele fuja". Deixe que teu cérebro trabalhe e defina qual a intensidade que imprimirá sobre a empunhadura. Seria a mesma força, com que segura uma caneta, para escrita. Esta força tem que ser mantida durante todo o processo de disparos. Uma vez assimilado criaremos a memória muscular, conseguentemente o domínio da arma.
A intensidade do recuo de uma pistola vai variar de acordo com seu tamanho e potencia de seu calibre. As pistolas compactas, nestes calibre (9mm, .40 e .45) tem a tendência de serem mais nervosas, ou seja, pulam mais na mão do atirador. Já as tradicionais, por serem maiores ou mais pesadas acabam por ter o impacto causado pela queima dos gases distribuídos por sua superfície, culminando com um recuo menor, a exemplo da IMBEL MD1, ou as de modelo 1911.
No Brasil a maioria das armas de mão possuem seu raiamento interno do cano, em giro destro. Isso significa que o cartucho quando é detonado, o projétil é expelido pelo cano, em um movimento circular, infringido para lhe dar estabilidade durante sua trajetória. Este movimento interno do cano, somado a energia causada pela combustão dos gases, causam um efeito de ação da arma, projetando-a, para cima e para a direita. Este movimento de arma chama-se Ângulo de Salto (AS) e pode variar conforme a potencia da munição e calibre empregado.
A maioria das armas, entre os calibres citados possuem um AS que varia entre 2,6 a 3,8cm. A única maneira de assimilar este AS é o emprego da empunhadura correta. As pistolas nos calibres citados, 9mm, .40 e .45, tem um recuo considerável, mas todos de fácil domínio e controle, desde que sejam empunhadas da maneira correta, ou seja, desde que façamos a empunhadura correta.
Existe uma diferença na forma de empunhadura, quando se efetua um disparo único, ou uma sequência rápida de disparos. Se formos efetuar uma sequência lenta de disparos, estes podem ser efetuados até, com apenas uma das mãos, desde que a pegada da mão forte, seja feita de forma correta. De outra forma, se esta sequência de disparos for rápida, obviamente que terá que ser feita, com a empunhadura dupla, e principalmente, com a empunhadura correta.
A pegada da mão forte deve obedecer a ergonomia da arma. Esta deve ser alta ficando o beaver tail (rabo do castor) exatamente no centro do "V" da mão forte - formado pela base do polegar e a base do dedo indicador. Esta posição da arma é muito importante, pois na mão forte, quando efetuamos o movimento de acionamento do gatilho, com o dedo indicador, temos movimento de músculos internos (da parte da Palma da mão) e músculos externos (da parte Tenar da mão) que agem sobre a coronha da arma. Por este motivo a coronha deve ficar bem no centro do "V". Consequentemente o Beaver tail alinhado, ao antebraço. Isso dará a centralização da arma durante os movimentos de acionamento de gatilho e a assimilação do recuo.
Lembrando que o cano da arma, uma vez alinhado ao antebraço, ficará similar ao dedo indicador do atirador. Isso lhe dará a certeza no tiro visado (assunto que já abordamos em artigo anterior).
Os três dedos restantes, da mão forte acabam por abraçar a coronha da arma. Esta pronta a empunhadura simples, com uma pegada alta e firme. Com esta é possível efetuar uma sequência lenta de disparos precisos, sendo tiro de pontaria ou tiro visado, sem mais problemas.
De outra forma, se desejarmos efetuar uma sequência rápida de disparos, só há um tipo de empunhadura adequada, para manter o controle e domínio da arma. Trata-se da empunhadura "Tenar", desenvolvida por um Cel. do Exercito americano na década de 70. A empunhadura "Tenar" originou-se da evolução da empunhadura dupla, para manter o controle total das armas de mão, pois com esta, mantém-se obrigatoriamente as duas mãos em contato com a arma, possibilitando seu controle total.
A empunhadura dupla consiste na mesma pegada da arma, com a mão forte mantendo a mão de apoio, para firmar a arma. Esta, encaixa a parte tênar da palma da mão de apoio junto a parte da coronha que esta livre avançando o dedo indicador, para que sua ponta se mantenha encostada no corpo da arma próximo a alavanca de desmontagem. Os quatro dedos restantes da mão de apoio abraçam os três dedos da mão forte que estão abaixo do guarda mato da arma. Sendo assim, teremos as duas mãos em contato com a arma exercendo aquela força controlada, a fim de manter o seu domínio durante os disparos.
Portanto, uma vez entendido o movimento cinético da arma durante os disparos, nos possibilitará a definição correta do movimento mecânico a ser realizado, através da execução da empunhadura ideal, com isso mantendo o controle da arma durante os disparos, sejam em uma sequência lenta ou rápida, aumentando o domínio sobre o equipamento, não importando qual o seu calibre.
Autor: Marcos Vinicius Souza de Souza - Policial Civil/RS, por 32 anos, Instrutor de OESPP, Autor dos Livros Manual de Técnicas e Procedimentos Policiais e Combate em Ambiente Fechado CQB-CTTE.